O médico que expelia ossos pela boca - Medicina Macabra

A resenha a seguir contém descrições de violência e patologias que podem causar desconforto. 

Não indicado para pessoas sensíveis. 

Mensagem da escritora: Olá, caro (a) leitor (a), sei que parece estranho (num primeiro momento) um post aqui no The Crime sobre esse livro especificamente, mas, decidi que nas terças-feiras trarei alguns conteúdos diversificados e interessantes para vocês. Serão conteúdos mais curtinhos e de assuntos variados! Farei valer o: "textos aleatórios que fazem sentido" que tem na descrição do blog.  

Um abraço caloroso e boa leitura! 

Um médico sobrevivente da Guerra Civil Inglesa conseguiu se recuperar de um ferimento mortal de bala de mosquete no crânio, passando a conviver com incômodos fragmentos de ossos sendo expelidos pela sua boca e pelas narinas.



      Robert Fielding, nasceu em 1620 em Gloucestershire, um condado no sudeste da Inglaterra. Em 1642 acabava de completar 22 anos de idade e a se formar em Oxford no curso de Medicina.  

 

      Nesse mesmo ano a Guerra Civil da Inglaterra iniciou e Robert se alistou ao Exército do rei Carlos I. Sua primeira batalha aconteceu em 20 de setembro de 1643 em Newbury. O Exército de Carlos I foi derrotado naquele dia e Robert acabou se ferindo gravemente na batalha com um tiro na cabeça.

 

   O ferimento na cabeça de Robert parecia incurável e por um bom tempo ele não só sobreviveu, como continuou sua carreira acadêmica com maestria.  

 

     Após três anos do fatídico dia em que havia levado um tiro de bala de mosquete (uma bala grande, redonda e de metal) na cabeça, Robert já era um médico respeitado. Sua ascensão profissional foi tão grande que se tornara o prefeito da cidade em 1670. Ele era tão adorado e sua "cura" era tão impressionante que em 1708 a Philisophical Transactions publicou um relato de Robert sobre o ferimento no campo de batalha: 

 

VIII. Uma breve narrativa do tiro com uma bala de mosquete no Doutor Robert Fielding e a estranha maneira de como ela saiu de sua cabeça, onde ficaria alojada por cerca de 30 anos. Escrita pelo próprio. 

"Durante a primeira batalha de Newberry, nos tempos das finadas Guerras Civis, o doutor foi atingido por um tiro na região do olho direito, no os petrosum (um dos ossos do crânio) próximo da órbita ocular no crânio, o qual provavelmente fraturou, causando uma grande fusão de sangue por ferida, boca e narinas. O cirurgião cuidadosamente examinou a ferida em busca da bala, mas, falhando em sua intenção, decidiu, no terceiro dia após o tiro, posicioná-lo de maneira horizontal ao sol. Por meio da compreensão do crânio quebrado com uma sonda, podia sentir a palpitação do cérebro, não conseguindo, entretanto, encontrar a bala. 

Quando o doutor começou a sentir frio, sua boca se fechou e assim continuou pelo meio tempo de meio ano, até que muitas fraturas dos ossos se precipitaram da ferida, da boca e das narinas." 

 

     Os fragmentos dos ossos estilhaçados com o ferimento passaram a ser expelidos através da boca e narinas de Robert enquanto sua mandíbula travava durante todo o "processo". Dessa forma, sempre que um pedaço de osso estivesse prestes a sair por algum desses orifícios sua boca se fechava.

 

     Robert conviveu com isso por anos, tanto, que se tornou normal ossos do tamanho da cabeça de um alfinete saírem pela boca de Robert. 

 

     De a cordo com os relatórios médicos: era provável que a ferida estivesse próxima do nervo mandibular, que controla os quatro músculos responsáveis pela mordida e pela mastigação. Caso uma lasca de osso estivesse pressionando esse nervo, isso causaria uma paralisia temporária, que aliviaria assim que a pressão fosse removida. 

 

     Um ano depois do trauma sofrido a ferida se curou, mas ainda não havia sinal da bala. A necessidade de encontrar a bala e removê-la aumentou quando o ferimento completou cerca de 10 anos, pois, Robert passou a expelir um fluxo de material sanioso (um tipo de pus) pelas narinas. Isso durou alguns anos. 

 

     Esse material "sanioso" de acordo com as definições descritas nos registros correspondiam (provavelmente) a um tipo de líquido cefalorraquidiano (LCR, também conhecido como fluido cérebro-espinhal) - o líquido que amortece o cérebro contra lesões. Vazamentos de LCR, geralmente são consequências de uma lesão na "dura-máter" a mais externa, espessa e fibrosa das três membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. 

       Após um tempo, Robert passou a sentir dores no lado esquerdo do rosto, na altura das amídalas, o que também ocasionava certa surdez.  

    Com o tempo esses sintomas se agravaram e em março ou abril de 1670 no momento em que um desses episódios ocorriam, o lado esquerdo da face dele "caiu", como uma paralisia facial, e perto da orelha podia sentir um firme calombo. 

 

     A partir de então vários tumores começaram a aparecer daquele lado, abaixo do maxilar. Ele sentia dores e desconfortos como se houvesse algo puxando a sua mandíbula para baixo, sintomas que o fizeram buscar por um médico.  

 

    O médico que passou a tratar o problema de Robert decidiu iniciar alguns procedimentos em que o submetia a pequenas perfurações no local (naquela época esses procedimentos não eram nada comuns). Após dois anos testando esses procedimentos a bala foi descoberta e removida em agosto de 1672. 


      Acho de bom tom compartilhar um pensamento de Thomas Morris sobre esse capítulo do livro: A vida pode ser frágil, ainda assim há diversos casos na história da medicina que demonstram que somos capazes, em certas ocasiões, de superar até o pior dos ferimentos. Muitas dessas recuperações são atribuíveis à devoção ou ao engenho de um médico comprometido.

 

     Robert levou um tiro na cabeça em 1643 (aos 22 anos), sobreviveu, se tornou um médico influente, prefeito da cidade em que vivia e tudo isso com todas as implicações desagradáveis de se ter uma bala alojada em seu rosto lhe causando uma séries de sintomas bizarros que traziam dor, desconforto e passando por situações embaraçosas tendo que dar explicações do porquê haviam ossos saindo pela sua boca (os ossos saiam em momentos variados e não tinha como controlar quando e onde aconteceria) Robert se sentia desconfortável e de certa forma ridicularizado com essas situações.

 

     Ele não apresentou qualquer sequela por ter alojado durante 30 anos um pedaço de chumbo em seu crânio, e continuou vivendo sua vida da melhor forma que conseguiu. Seis décadas após a batalha de Newbury, Robert escreveu sobre o ocorrido.


  

* As imagens utilizadas nessa publicação foram fotografadas do livro Medicina Macabra, da DarkSide Books.

Ficha Técnica do livro
  • Título: Medicina Macabra
  • Autor: Thomas Morris
  • Editora: DarkSide Books
  • Ano de publicação: 2020

* Os detalhes dessa e de outras histórias macabras e extraordinárias, você encontra em Medicina Macabra

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Por Thainá Bavaresco.

Comentários

  1. Que sinistro, e o mais incrível é que mesmo com toda essa adversidade, ele ainda conseguiu "dar a volta por cima", por assim dizer, e viveu uma vida de se admirar.

    Só fico imaginando os pensamentos dele em todos esses anos, por saber que algo estava errado com ele, e não conseguir resolver.

    Baita história, e a forma como você descreveu o caso só dá mais vontade de ler sobre!

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    Respostas
    1. Sem dúvidas!!! Puta história bacana de superação. Que bom que a leitura aqui no blog te fez querer ler mais sobre o assunto <3

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  2. Que horror, ainda bem que deu tudo certo no final kk

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