O Crime de Alcácer - O triplo homicídio que chocou a Espanha nos anos 90

A história a seguir contém descrições de crimes extremamente violentos: tortura, estupro e violência contra a mulher/criança. Não é indicado para pessoas sensíveis e é recomendado para maiores de 18 anos.

O caso de hoje é basicamente uma resenha do documentário "O Crime de Alcácer" da Netflix. Esse documentário foi lançado em 2019 e é dividido em 5 episódios de mais ou menos 1 hora cada.  

 

O primeiro episódio fala sobre o desaparecimento das meninas; o segundo sobre o crime e como elas foram encontradas; o terceiro sobre as teorias do que poderia ter acontecido com elas; o quarto é sobre o julgamento e mostra momentos exclusivos do tribunal; e o quinto e último episódio mostra o desfecho de todo o Caso Alcácer. 

 

É importante retratar aqui que o documentário deixa bem nítido a forma como a mídia lidou com esse caso, a falta de ética de grande parte dos jornalistas da época e o machismo escancarado nas manchetes e entrevistas publicadas nos anos 90. 

 

Além disso, a forma como o crime se tornou rapidamente um espetáculo midiático que mais se parecia com mero entretenimento para as pessoas do que o relato e investigação de um crime brutal. 

 

O caso Alcácer foi considerado o primeiro crime midiático da Espanha, mas ele não ficou famoso somente no país, ele repercutiu por toda a Europa, e se tornou um símbolo de luta anos depois.  

 

E eu vou tratar sobre os reflexos desse caso ao final do texto/episódio. 

 

Sobre o documentário: eu particularmente não gostei. Na verdade, foi um documentário bem difícil de assistir e que não me deixou com vontade de terminar. Provavelmente se eu não fosse escrever sobre esse caso eu nem teria terminado de assistir. Mas, pra quem quer se aprofundar no caso é claro que eu recomendo que assista sim ao documentário, porque tem muitos detalhes, entrevistas e materiais de vídeo da época dos fatos, o que deixa o conteúdo mais completo e interativo. 

 

E agora sem mais delongas, bora para o caso de hoje. 

Boa leitura! 


 

No dia 13 de novembro de 1992, uma sexta-feira, em Alcácer, um município da Comunidade Valenciana, na Espanha de apenas 8 mil habitantes, três amigas adolescentes se preparavam para sair, elas queriam ir a uma boate, conhecida como boate Coolor para dançar. Essas jovens eram Antonia Gómez e Miriam García de 14 anos de idade e Desireé Hernández, de 15 anos.  

 

Elas se arrumaram e foram para a casa de outra amiga, a Esther Díez, Esther não estava se sentindo bem naquele dia, ela e seu pai estavam com febre. Então ela decidiu por não ir com as amigas para a boate, e como seu pai também não estava disposto ele não conseguiu levar as meninas até a boate Coolor, que ficava em Picassent, uma província vizinha de Alcácer que ficava cerca de 2 km da casa de Esther. 

 

Em 1992 era muito comum que os jovens pegassem carona para se locomover, a região era formada por pequenas províncias com poucos habitantes que se conheciam, então ir a boate pedindo por carona não era nada incomum e foi o que elas fizeram. Pediram carona para chegar até a boate Coolor. 

 

Porém, após pedirem por carona elas simplesmente desapareceram. 

 

Após os pais perceberem que as meninas não haviam voltado no horário combinado a polícia foi acionada, mas, como elas eram adolescentes a polícia pediu para que esperassem por cerca de 26 horas para que de fato pudessem considerar ser caso de desaparecimento, sequestro ou algo pior. 

 

Na época era considerado "normal" a polícia esperar por um período de tempo antes de iniciar uma força tarefa de buscas, ainda mais quando se tratava do suposto desaparecimento de pessoas jovens, porque poderia ser um simples caso de rebeldia e fuga.  

 

Hoje em dia já sabemos que as primeiras 24 horas de um desaparecimento são imprescindíveis para que a polícia tenha um bom desempenho nas investigações e êxito na captura de um suposto criminoso. Além disso e o mais importante é que as chances de uma eventual vítima ainda estar com vida também aumentam nessas primeiras 24 horas de buscas. 

 

Após o período determinado pela polícia foi iniciada as buscas pelas meninas e o caso ficou rapidamente conhecido, pois Alcácer era uma cidade pequena e 3 garotas haviam desaparecido.  

 

A mídia também passou a cobrir cada passo da busca pelas garotas e repórteres de toda a região estava interessado em passar com exclusividade as notícias sobre "as meninas de Alcácer". 

 

O caso passou a ser tão repercutido que a Espanha inteira parava para assistir as descobertas da investigação. Os pais das meninas também movimentavam a mídia e pessoas para que os ajudassem a encontrá-las o quanto antes. 

 

Em decorrência de toda essa movimentação muitas pessoas ligavam para a polícia dando dicas e relatando que viram as meninas, porém, muitas dessas dicas não levavam a polícia a lugar nenhum e inclusive, atrapalhavam a investigação, porque a polícia gastava tempo averiguando pistas falsas ao invés de focar em pistas realmente importantes. 

 

Um dos relatos mais relevantes foi o de um casal que afirmou ter dado carona para as meninas até um posto de gasolina em Picassent, que ficava próximo da boate Coolor, eles disseram ainda que depois de terem deixado as meninas no posto de gasolina só as viram na TV nas reportagens que mostravam as investigações sobre o desaparecimento das jovens. 

 

Porém, um outro relato desmentia a versão do casal e esse relato foi considerado o mais relevante para a investigação. O depoimento foi dado por uma senhora chamada Gema Alonso, ela afirmou que as 3 amigas pediram carona na rua de seu apartamento, e que ela estava em sua varanda naquele momento e conseguiu ver tudo. Segundo ela, as meninas pediram carona e um carro branco e pequeno com provavelmente quatro pessoas dentro parou e elas entraram no carro. 

 

No documentário mostra o depoimento dos familiares das meninas, dos amigos, de funcionários da boate e de pessoas de interesse para o caso, e a polícia constata que as meninas muito provavelmente nunca chegaram à boate naquela noite.  

 

Meses se passaram e muitas especulações sobre o caso foram aparecendo. O caso foi se tornando cada vez mais misterioso e a mídia continuava mostrando cada teoria em TV aberta. 

 

Além de jornais, programas de auditório também recebiam parentes das vítimas para conversar sobre o caso e sobre a investigação. O caso se tornou tão relevante que o próprio presidente da Espanha na época demonstrou apoio as famílias das meninas e equipes especiais de investigação foram formadas para trabalhar somente nesse caso. 

 

Após três meses de buscas intensas e investigações que não chegaram a uma conclusão sobre o caso, dois apicultores encontraram algo estranho. Era uma mão para fora da terra com um relógio prata no pulso em um tipo de fosso no morro de La Romana, localizado na montanha próxima ao Pântano de Tous. La Romana ficava a 50 km de Valencia e 37km de Alcácer. 

 

Os apicultores José e Gabriel sempre iam para o morro de La Romana, pois era lá que ficavam os criadouros de abelhas que eles cuidavam. O morro ficava numa área remota de difícil acesso e que tinham algumas construções em ruína próximo do local em que encontraram inicialmente o braço de uma pessoa.  

 

A polícia foi acionada, mas como já era fim da tarde do dia 27 de janeiro de 1993 a polícia não conseguiu iniciar as escavações naquele dia. Então foi feito o isolamento do morro de La Romana, como sendo a cena de um crime e no dia seguinte, pela manhã foi feita uma inspeção completa por todo o local. 

 

Na manhã do dia 28 de janeiro de 1993 uma série de escavações foram realizadas no local. Nessa fossa foram encontrados três corpos enterrados um em cima do outro, como se tivessem feito uma cova e simplesmente jogado todos os corpos ali, um sobre o outro.  


 


Os corpos já estavam em um estado avançado de decomposição, eles foram decapitados e estavam enrolados em um tipo de tapete. Além disso vários objetos, roupas e papéis foram encontrados com as vítimas.  

 

Em um desses papéis foi possível identificar que se tratava de um Formulário de Emergência do Hospital de La Fé em Valencia, também era possível ler o nome de Enrique  Anglés  Martínez, com data de nascimento de 25 de julho de 1966 e não se soube naquele momento qual a doença que ele tinha, mas a polícia considerou ser uma doença venérea. Mais tarde no documentário Enrique foi considerado um esquizofrênico. 

 

A perícia foi para o local e nesse meio tempo os repórteres que noticiavam todo o caso desde o início também chegaram em La Romana. 

 

A foto das garotas estava estampada em panfletos de pessoas desaparecidas e naquele momento algumas pessoas que não eram da família das vítimas as reconheceram. Tudo foi noticiado ao vivo e as famílias ficaram sabendo pelo jornal que suas filhas haviam sido encontradas e que estavam mortas. 

 

O pai de Miriam, o senhor Fernando García nem estava na Espanha no dia em que o corpo de sua filha foi encontrado. O caso teve grande repercussão na Europa inteira e nesse dia ele estava na Inglaterra para dar entrevistas sobre o caso. 

 

Na época desse crime brutal, as autoridades afirmaram que as três adolescentes estavam a caminho de uma festa quando pediram carona para homens desconhecidos e nunca mais foram vistas com vida. 

 

No dia 28 de janeiro de 1997 foi realizada a primeira autopsia nos corpos das jovens encontradas e foi confirmado que eram Miriam, Toni e Desireé. A perícia também constatou que elas foram estupradas, torturadas e assassinadas com tiros na cabeça e na nuca. Novamente essas informações foram transmitidas em TV aberta com detalhes do estado dos corpos e detalhes do que havia acontecido com elas antes de sua morte.  

 

Após a perícia confirmar que os corpos encontrados eram das meninas desaparecidas de Alcácer, a polícia decidiu investigar Enrique Anglés, começando por seu passado, pois a polícia queria descobrir se Enrique tinha antecedentes criminais. 

 

No documentário o capitão Ibánez disse que nem precisou averiguar se Enrique tinha antecedentes, ele sabia que tinha, disse que ele já era um "conhecido da polícia", então foram para a casa de Enrique que ficava no município de Catarroja, há 7km de Alcácer. 

 

A polícia chegou na casa de Enrique e conversou com sua mãe, nesse momento outras duas pessoas chegaram no local. Depois de olharem o apartamento, a polícia levou todos que estavam no local para a delegacia para serem interrogados e somente na delegacia foram identificados. 


Miguel Ricart e Enrique foram presos, Miguel porque tinha um carro pequeno e branco que batia com a descrição do veículo que a testemunha ocular descreveu para a polícia e Enrique porque seus documentos foram encontrados no local do crime. 


 


O promotor chefe de Valencia, Dr. Enrique Beltrán afirmou no documentário que Antonio Anglés, irmão de Enrique usava os documentos dele e por isso eles foram encontrados no local do crime, e completou dizendo que Enrique não tinha capacidade para matar uma pessoa e que não sabia dirigir, era esquizofrênico e seu QI era muito baixo para cometer um crime como esse. 

 

Além disso, a irmã de Enrique e Antonio confirmou que Antonio já era um fugitivo da polícia e que realmente se passava por Enrique utilizando seus documentos, disse que Antonio era violento e perigoso e que Enrique nem saia de casa.  Então, no dia 30 de janeiro de 1993, Enrique Anglés foi posto em liberdade. Enrique disse que só queria ficar em paz e vir para o Brasil ficar com sua família. Ele também disse que Antonio era perigoso e capaz de fazer qualquer coisa, que uma vez Antonio teria apontado a arma para sua cabeça e o ameaçado. 

 

Miguel disse em depoimento que realmente tinha um corsa branco, mas que havia emprestado o carro para Antonio desde o dia em que ele fugiu da prisão, e completou dizendo que não sabia aonde ele estava, não sabia do carro e que não tinha notícias de Antonio. 

 

Porém, em uma segunda declaração ele confessa ter participado do crime e conta detalhes sobre o suposto modus operandi: ele contou para a polícia que no dia 13 de novembro de 1992 ele e Antonio avistaram as garotas pedindo carona e decidiram parar o carro para que elas entrassem no corsa branco dele. (Informações que coincidem com as declarações da testemunha ocular, dona Gema). 

 

As meninas pediram para que eles as deixassem na boate Coolor, mas ao invés disso, eles as levaram numa casa abandonada próxima ao morro de La Romana. Ele conta que amarraram as meninas num tipo de madeira que tinha na casa e o Antonio ia desamarrando uma por uma para estuprá-las. 

 

Miguel também estuprou as meninas. Elas ficaram amarradas nessa casa por um tempo segundo ele, porque eles foram para um bar comprar comida, uma testemunha que trabalhava no bar confirma que de fato Miguel esteve no bar, mas que não se recorda de Antonio, essa testemunha deu a descrição do irmão caçula de Antonio e Enrique, o Mauricio Anglés que tinha 16 anos de idade na época do crime. 

 

No documentário ele aparece rindo e fumando. É dito que ele se comportava como alguém mais velho do que um garoto da sua idade. Segundo a investigação ele também teria estuprado as maninas. 

 

Bom, voltando do bar eles teriam agredido e estuprado as garotas novamente e de acordo com Miguel eles foram dormir. As meninas estavam apavoradas, com medo, com dor e tinham acabado de passar por uma série de violações, então estavam chorando, nesse momento Antonio teria agredido as meninas com um pedaço de madeira. 

 

Elas ficaram com mais dor e mais apavoradas, então Antonio continuou agredindo as garotas e as violências que elas sofreram foram consideradas como tortura.  

 

De acordo com o documentário na manhã seguinte Antonio decidiu que era melhor matar as garotas para que eles não fossem reconhecidos, então teria feito elas andarem até a fossa aonde os corpos foram encontrados meses depois e atirado nelas.  

 

Eles enterraram as garotas em um tipo de canteiro e colocaram plantas cortadas em cima para esconder que a terra havia sido mexida. Testemunhas disseram que ouviram três tiros naquela manhã, mas não conseguiam identificar o local exato dos tiros. 

 

Alguns meses depois Miguel mudou completamente o seu depoimento e afirmou que a polícia o obrigou a dar essas declarações. Ele disse que foi torturado e obrigado a se declarar culpado. Na época dessas declarações ele passou por exames periciais que não encontraram sinais de violência física contra ele. 

 

Em março de 1993 um colaborador da polícia portuguesa declarou que conheceu Antonio Anglés em Portugal por algumas semanas, e segundo esse colaborador, Antonio furtou seu passaporte para fugir para o Brasil. 

 

Antonio Anglés é brasileiro e nasceu na cidade de São Paulo, mas sua família se mudou para a Espanha quando ele tinha apenas um ano de idade. Segundo informações, Antonio sempre foi conhecido como sendo um criminoso violento que costumava agredir a mãe.  

 

Ele tem antecedentes criminais por roubos, tráfico de drogas e pelo triplo estupro e assassinato das meninas de Alcácer de 1992. Antonio está na lista de criminosos mais procurados da Interpol e inclusive, é o criminoso mais procurado da Espanha até hoje, em 2019 foi noticiado que ele havia fugido para Lisboa, em Portugal, mas nunca foi encontrado.  


 

Em julho de 1995 foi remetido ao juiz um novo relatório sobre uma perícia particular feita no local do crime, na casa em que as meninas foram supostamente estupradas e agredidas. Nesse relatório foram analisadas amostras de cabelo, sêmen e sangue encontrados no local. 

 

Segundo o resultado desse relatório do perito particular, o Dr. Luis Frontela, um médico especializado em medicina forense que era muito respeitado por toda a Espanha, a amostra de cabelo encontrada no local era de Mauricio Anglés, e o sêmen e sangue foi atribuído como sendo de algum outro irmão Anglés, provavelmente o Antonio, mas isso nunca foi comprovado porque ele ainda está foragido. 

 

A defesa de Mauricio afirmou que os irmãos já frequentavam aquela casa para passar o tempo e que o relatório não era prova de que eles mataram as garotas. Até porque nenhum fragmento biológico das meninas foram encontrados nessa casa. 

 

O pai de Miriam, o senhor Fernando Garcia nunca acreditou que elas foram mortas nesse local, pois no documentário ele vai até a casa e mostra que não há sangue e nem sinais de que uma violência teria acontecido ali. 

 

As famílias de algumas vítimas também não acreditavam na versão da polícia. Sempre acharam ilegítimo os documentos serem encontrados junto aos corpos. Além disso, outros indícios contrariavam a versão original da investigação feita pela polícia, como por exemplo, o carro de Miguel também foi periciado e só foi encontrado cabelo dele, que é o dono do carro. Não foi encontrado nada das meninas no carro, nem cabelo e nem DNA.

 

As roupas que foram encontradas junto com os corpos das meninas também foram periciadas. E nessas roupas haviam o DNA de pelo menos 7 pessoas, 4 desses DNA não eram nem do Miguel e nem dos Anglés e os outros 3 DNA estavam danificados demais para serem analisados com precisão. 

 

O pai de Miriam não acreditava que Miguel tivesse cometido o crime, ou que pelo menos mais pessoas estivessem envolvidas no caso, e chegou a pedir a suspensão do julgamento, pois tinha certeza que o crime não estava esclarecido e que muita coisa ainda precisava ser investigada. 

 

Ele conseguiu apoio de um jornalista investigativo que passou a ajudá-lo voluntariamente e várias teorias foram criadas, como por exemplo, a de que pessoas influentes teriam cometido o crime para gravar e vender os na Deep Web.  

 

Essa prática é bastante comum e lucrativa. E é conhecida como "filmes snuffs" que são filmes que mostram mortes ou assassinatos reais de uma ou mais pessoas, sem a ajuda de efeitos especiais, para o propósito de distribuição, entretenimento e exploração financeira. Normalmente são publicados na Deep Web e se tem notícias de que existem seitas espalhadas pelo mundo que contratadas para produzir "filmes snuffs". 

 

Mas, apesar de essas novas teorias terem sido discutidas no julgamento, Fernando não conseguiu a suspensão do mesmo e o julgamento de Miguel Ricart começou no dia 12 de maio de 1997. 

 

O julgamento se estendeu por meses, foram feitas acareações dos peritos no julgamento, que inclusive demonstraram análises diferentes sobre crime e sobre as evidências. O Perito particular, Luis Frontela alegou que os peritos da polícia haviam feito as autopsias de forma errada e alegou que eles provocaram uma perda de provas que poderia identificar o verdadeiro assassino, ou assassinos com precisão. 

 

Os peritos da polícia repudiaram as acusações e disseram que os corpos estavam em estado avançado de putrefação e que fizeram as análises da melhor forma técnica possível.

 

A sentença de Miguel Ricart foi proferida no dia 05 de setembro de 1997 e ele foi condenado a 170 anos de prisão pelo triplo homicídio, estupro e tortura de Antonia Gómez, Miriam García e Desireé Hernández.  

 

Além disso foi condenado a indenizar as famílias das vítimas no valor de 300 milhões de pesetas, moeda vigente na Espanha na época do caso. 

 

O crime de Alcácer desde o início teve grande relevância na mídia, apesar de muitas teorias terem surgido e algumas pessoas terem sido presas no curso das investigações somente Miguel foi formalmente acusado e posteriormente condenado.  

 

Em 2015 Miguel conquistou a liberdade condicional e segue em liberdade até hoje, não se sabem informações reais de seu paradeiro. Antonio segue sendo procurado pela polícia espanhola e pela Interpol. 

 

O crime de Alcácer voltou a ser muito comentado após a estreia do documentário na Netflix no dia 14 de junho de 2019. No documentário fica bastante nítido o quanto a mídia explorou esse crime para lucrar. 

 

A BBC fez uma reportagem completa sobre a cobertura antiética feita na época dos fatos e o quanto conceitos machistas nortearam cada reportagem.  

 

A cientista política Nerea Barjola e escritora do livro "o Caso Alcácer e a Construção do Terror Sexual" (el Caso Alcàsser y la Construcción del Terror Sexual) diz que"Na ausência de dados sobre o ocorrido, o furo era focar no sofrimento".


Ela escreveu o livro sobre o caso e concedeu uma entrevista histórica para a BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC) na entrevista ela conta que"Primeiro, mostravam a dor, a indignação, a vingança... depois, não há mais como voltar atrás: as meninas são públicas, sua dor é pública, suas vidas, suas vozes são públicas, sua história é pública. E, sobretudo, seu corpo é público. Abordei esse tema porque estava interessada em investigar como as representações sobre o perigo sexual determinam e coagem o comportamento das mulheres", diz Barjola "Comecei a pensar, então, sobre as representações que me colocaram em contato com o terror sexual pela primeira vez, isto é, com o medo de que algo pode acontecer com você porque você é mulher. Foi quando eu pensei no caso de Alcácer." 

 

De acordo com a autora do livro, a história contada pela imprensa focou nas ações das adolescentes, como se elas fossem culpadas, como se o fato de terem pego carona tivessem as matado, violentado e estuprado.  

 

E ela continua: "Na época, se falava muito que elas tinham pedido carona", explica. "Praticamente toda a narrativa girava em torno disso, de que se elas não tivessem pedido carona, nada disso teria acontecido. E por extensão, esse é um aviso para o resto das mulheres. Determinaram diretrizes de comportamento e limites que não poderíamos ultrapassar. E se a gente ultrapassasse, ao andar livremente na rua ou pegar uma carona, que era uma forma segura na época de se deslocar de um lugar para outro, poderia acontecer o que aconteceu com elas. 

A mídia nos convidou a reformular nosso comportamento, em vez de colocar o foco do debate no sistema machista em que vivemos e que permite aos homens ter esse privilégio sobre nossos corpos e nossas vidas. Como consequência dessa cobertura, o público teve acesso a dados e imagens muito precisos sobre a agonia sofrida pelas adolescentes. 

A mensagem que está sendo enviada para nós é que nossos corpos são públicos, não apenas no momento do estupro ou assassinato, mas depois, porque nossos corpos serão expostos o tempo todo na mídia, com manchetes como 'Assim encontraram os corpos das meninas de Alcácer', informando quantas vezes violentaram esses corpos, quantas vezes foram esfaqueados, se sofreram ou não sofreram.

Esse tipo de cobertura acontece o tempo todo na imprensa, está presente o tempo todo, e tudo isso alimenta o nosso medo" 

 

Eu sei que foi um trecho um pouco longo, mas achei imprescindível incluir no texto, deixei o link da entrevista completa na descrição.  

 

Espero que tenham gostado do caso de hoje e que esse final sirva como reflexão para nós mulheres, para lutarmos por nossos espaços, por nossa liberdade e autonomia, mas principalmente que sirva aos homens como exemplo e que vocês entendam de uma vez por todas que os nossos corpos não são objetos sexuais feitos para satisfazer vocês, a nossa existência não é e nem pode ser resumida a servir vocês de qualquer forma. 

 

Esse caso é sobre machismo desde o início, quando mulheres, na verdade meninas são vítimas de abuso sexual, violência e são descartadas depois, o crime é noticiado de uma forma pejorativa, expondo as vítimas e questionando suas ações, elas são culpabilizadas e de certa forma responsabilizadas sobre o crime que sofreram. 

 

A versão do pai nunca foi confirmada, mas se tiver sido isso, mais uma vez o machismo e o patriarcado operam num esquema nojento de sexualizar o assassinado de mulheres, em que a ação é gravada e vendida para satisfazer fantasias doentias de pessoas que acreditam que mulheres são meros objetos sexuais.




Fontes de pesquisa:

Documentário da Netflix: O Crime de Alcácer

"Documentário sobre um caso que chocou a Espanha na década de 90. Novos depoimentos e uma análise atualizada das evidências sobre o assassinato de três garotas."

https://www.netflix.com/br/title/80213115

Fontes secundárias:

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-48756790

https://www.bbc.com/portuguese/internacional-48756790#:~:text=V%C3%ADdeos-,O%20Crime%20de%20Alc%C3%A1cer%3A%20o%20caso%20de%20estupro%20e%20assassinato,e%20virou%20s%C3%A9rie%20da%20Netflix&text=Em%2013%20de%20novembro%20de%201992%2C%20Antonia%20G%C3%B3mez%2C%20Desire%C3%A9%20Hern%C3%A1ndez,da%20Comunidade%20Valenciana%2C%20na%20Espanha.

https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-o-crime-de-alcacer.phtml

https://podcasts.google.com/search/o%20crime%20de%20alc%C3%A1cer


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Por Thainá Bavaresco.

Comentários

  1. Que horror. Uma vez vi um documentário sobre a Deep Web que fiquei dias sem dormir, umas coisas bizarras de assustadoras.

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    1. Tem tanta coisa bizarra que é até difícil de acreditar!

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