FOR LIFE E A HISTÓRIA DE ISAAC WRIGHT JR

A história a seguir contém elucidação de assuntos relacionados à violência policial, institucional, seletividade penal e suicídio. Não é indicada para pessoas sensíveis.

“Ele lutará para que tenhamos o sistema mais ético, inteligente e ágil de justiça criminal da nação. Para fazer tudo isso em um mundo complicado, é preciso alguém com valores, com grande julgamento, e acima de tudo, com integridade.”

Isaac Wright Jr., nasceu no dia 23 de janeiro de 1962, em Orlando, na Flórida. Filho de Isaac Wright Sr. e Sandra B. Wright.

Isaac teve uma infância considerada "comum", pois seus pais não eram ricos, mas conseguiram ter uma vida relativamente tranquila em termos financeiros. O sr. Isaac foi militar de carreira, atuando em diversas cidades dos Estados Unidos e até mesmo em algumas zonas de conflito no exterior. Então, durante a infância de Isaac, sua mãe era quem costumava ser a figura de autoridade mais presente em sua vida.

No início dos anos 80, Isaac já residia na cidade de Nova York com sua esposa e filha, nessa época participou de show de talentos chamado "Star Search", tendo destaque por algumas semanas no país, como membro do trio de dança "Uptown Express".

No final da década de 1980, ele era dono de uma gravadora independente chamada X-Press Records, além de ser um "gerente de talentos", enquanto sua esposa, Sunshine, ajudava a empresariar o grupo musical The Cover Girls, que tocava músicas pop e foi cofundado por Isaac.

Alguns anos depois, em 1989, tudo na vida da família desandou quando Isaac foi preso, acusado de chefiar uma das maiores redes de distribuição e comercialização de drogas nas regiões metropolitanas de Nova York e Nova Jersey.

Somente 2 anos após a sua prisão seu caso foi levado a julgamento, e, em 1991 foi considerado culpado por todas as acusações que envolviam a suposta comercialização e distribuição de drogas em Nova Jersey. Posteriormente ele também acabou sendo considerado culpado das acusações que envolviam o tráfico de drogas em Nova York e foi condenado à prisão perpétua.

Enquanto Isaac cumpria pena, se manteve inconformado com sua condenação e dinâmicas do sistema que também condenavam pessoas (principalmente pobres e pretas) erroneamente. Assim, Isaac passou a estudar e a desenvolver apurados entendimentos jurídicos com base nos livros que lia na prisão.

E com o tempo formulou uma nova linha de defesa suplementar que ele apresentou no caso de outro apenado e colega de cárcere, no caso Estado contra Alexander n. 264, Nova Jersey 102 em 1993.

Isaac ainda não era estudante de Direito, havia se formado apenas no ensino médio e lia livros jurídicos na unidade prisional (o que demonstra que educação formal não é o mais importante).

Em seu novo resumo legal do caso, Isaac atacou as instruções do júri utilizadas por Nova Jersey em casos de condenações por tráfico de drogas, argumentando que essas instruções eram contrárias à legislação, determinando quem deveria ser acusado ou condenado como chefe dos cartéis de drogas. Basicamente, ele argumentou contra a seletividade penal.

O argumento de Isaac prosperou em primeira instância, mas a decisão foi apelada e revogada pela Suprema Corte de Nova Jersey. Isaac, criou então um projeto de lei que usou em uma defesa suplementar para reverter sua própria condenação e sentença de prisão perpétua no caso Estado contra Isaac, n. 143, Nova Jersey 580 em 1996.

Isaac conseguiu reverter sua pena de prisão perpétua para uma mais branda, mas continuou preso.

Com seu recurso encerrado, Isaac peticionou novo requerimento para o tribunal de primeira instância, alegando má conduta da polícia e do Ministério Público em seu caso.


Em sua audiência de PCR (Post Conviction Relief) em 1996, durante o interrogatório de Isaac de um detetive veterano da polícia chamado James Dugan, confessou má conduta policial em seu caso. A libertação oficial de Isaac se deu com base nesse interrogatório, já que a confissão de James abriu precedentes sistemáticos da má conduta policial e do Ministério Público no caso Estado contra Isaac.

O promotor do condado de Somerset, Nicholas L. Bissell Jr., que havia processado Isaac foi identificado como o orquestrador da má conduta. Foi dito que Nicholas instruiu os policiais a falsificar relatórios, enquanto ele ditava pessoalmente o falso testemunho de testemunhas contra Isaac.

Nicholas ainda fez acordos secretos com advogados de defesa para que seus clientes mentissem no julgamento, para convencer o Júri de que Isaac era o chefe do tráfico de drogas de Nova York e Nova Jersey.

Nicholas, acabou se declarando culpado da má conduta oficial, a fim de não ser preso. O juiz de julgamento de Isaac, Michael Imbriani, que ocultou acordos secretos realizados por esquemas de sentenças ilegais, foi destituído do cargo e preso por acusações de roubo não relacionadas.

O caso acabou repercutindo em todo o país e quando Nicholas soube da prisão do juiz pelo noticiário da TV, fugiu. A polícia federal passou a persegui-lo, mas Nicholas acabou cometendo suicídio quando a polícia tentou prendê-lo.

Após tudo isso, as condenações de Isaac foram anuladas em 1997 e ele foi imediatamente posto em liberdade, após mais de 7 anos preso injustamente.

Após sua libertação, Isaac continuou estudando, se tornou Bacharel no curso de Ciências em Serviços Humanos pela Thomas Edison State University em 2002 e ingressou na faculdade de Direito em 2004, graduando-se na St. Thomas University School of Law em 2007.

Mesmo após passar na prova da Ordem dos Advogados em 2008, Isaac foi investigado pelo Comitê da Ordem dos Advogados de Nova Jersey por mais de 9 anos antes de ser admitido oficialmente na Ordem pela Suprema Corte de Nova Jersey. Somente em 27 de setembro de 2017, Isaac conseguiu sua licença oficial para advogar.

Nesse dia Isaac se tonou histórico, pois acabava de se tornar a primeira e única pessoa na história dos Estados Unidos a ser condenada à pena prisão perpétua, provar sua inocência e garantir sua própria libertação, e, em seguida, receber a licença para advogar pelo próprio tribunal que o condenou.

No mesmo ano, em 2017, Curtis Jackson assinou um contrato para produzir uma série de TV, inspirada na vida de Isaac, vou falar sobre ela daqui a pouco.


Em dezembro de 2020, Isaac anunciou que concorreria ao cargo de prefeito da cidade de Nova York. E desde 2021, Isaac advoga no escritório Hamlin & Ridley, localizado em Nova Jersey.

Ligue 188 - Centro de Valorização da Vida: centro de apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo de forma voluntária todas as pessoas que querem conversar por telefone, e-mail, chat e voip.


Sobre a série For Life, juro que não darei spoilers:

Alguns fatos mudam, como a profissão de Isaac (retratado como Aaron na série) antes de ser preso, os anos de cumprimento de pena, as dinâmicas de como o Aaron acaba conseguindo se tornar advogado, mostra o dia a dia na prisão, a corrupção não só nos sistemas punitivos, mas de administração penitenciária, entre outras coisas. Porém, a premissa da série é a mesma.

E bom gente, não é segredo pra vocês que escutam The Crime, que as questões que envolvem o cárcere me afetam de uma forma diferente e profunda, tanto que me fizeram escolher trabalhar na área, além de trazer esses assuntos nos episódios pra vocês.

E assistir For Life foi um verdadeiro misto de sensações, eu me revoltei em diversos momentos da série, chorei, ri, mas o sentimento que mais prevaleceu foi o da esperança contagiante do Aaron, uma esperança que te faz querer ser alguém melhor, te faz acreditar na justiça, ou ao menos te faz querer lutar por ela. Eu mesma saí dessa série querendo ser uma advogada melhor a cada dia.

E se alguém que escuta o The Crime ainda não se questionou sobre como a realidade do cárcere é terrível e como as diversas problemáticas que envolvem o encarceramento deveriam ser pautas urgentes dos países, For Life, certamente será uma porta de entrada para que pequenos questionamentos comecem a reverberar dentro de você.

Porque se alguém sai dessa série, baseada em uma história real, sem refletir sobre tudo o que aconteceu ali, essa pessoa está precisando urgentemente se inteirar dos problemas sociais que assolam o nosso corpo social.

Problemas esses, que ultrapassam as incansáveis condenações equivocadas dos Tribunais ao redor do mundo. Problemas de base, enraizados nas estruturas de cada camada social e de poder, que prendem e condenam grupos específicos, e que se baseiam tão somente na seletividade penal para isso.

E aos que já despertaram, For Life certamente te causará um desconforto gigantesco, e te convidará a questionar ainda os problemas que talvez já te tragam desconforto no dia a dia.

Mas isso não é ruim, pelo contrário, porque quanto antes decidirmos nos envolver e entender que podemos fazer parte da solução de um problema que afeta a todos nós, o mundo será um lugar melhor.

E não se esqueçam, inocente ou não, você gostando ou não, a população carcerária faz parte da nossa coletividade, e, portanto, devem ser respeitadas, os seus direitos devem ser assegurados e essas pessoas precisam ser tratadas com dignidade.

For Life

Sinopse: For Life é uma série de televisão americana de drama jurídico, criada por Hank Steinberg que estreou na ABC em 11 de fevereiro de 2020. A série é inspirada na história real de Isaac Wrigh Jr., que foi preso por um crime que não cometeu. Enquanto encarcerado, Isaac tornou-se advogado e ajudou a anular as condenações injustas de vinte de seus companheiros de prisão, antes de finalmente provar sua própria inocência.

Em junho de 2020, a série foi renovada para uma segunda temporada que estreou em 18 de novembro de 2020.

A série está disponível na Netflix e é simplesmente incrível! Ao mesmo tempo em que demonstra as falhas do sistema prisional e a seletividade penal que opera de forma devastadora em todos os âmbitos sociais e jurídicos, é uma série que te inspira a lutar e acreditar na justiça!

Fontes de pesquisa:

Exibido originalmente pela ABC americana entre 2020 e 2021, o drama jurídico For Life acompanha a história de Aaron Wallace (Nicholas Pinnock), um dono de boate condenado por tráfico de drogas — crime... Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/tela-plana/a-historia-real-por-tras-de-for-life-drama-juridico-bombando-na-netflix/

https://en.wikipedia.org/wiki/Isaac_Wright_Jr.

https://www.uol.com.br/splash/noticias/2022/04/11/prisao-injusta-a-historia-real-por-tras-de-for-life-top-10-da-netflix.htm

https://wrightfornyc2021.com/about/

https://morbidology.com/wrongfully-convicted-man-comes-for-those-who-put-him-behind-bars-isaac-wright-jr/

https://www.allamericanspeakers.com/celebritytalentbios/Isaac+Wright+Jr./442032

https://www.bustle.com/p/for-life-is-based-on-the-incredible-true-story-of-isaac-wright-jr-21787838

https://en.wikipedia.org/wiki/For_Life_(TV_series)

https://hunthamlinridley.com/attorneys/isaac-wright-jr/

https://www.f5news.com.br/blogs-e-colunas/levando-a-serie/for-life-e-goliath-a-justica-e-a-falta-dela-em-abordagens-transformadoras.html


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Por Thainá Bavaresco.

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