Hildebrando Pascoal - O Deputado da Motosserra

A história a seguir contém descrições de crimes extremamente violentos: assassinato, tortura e esquartejamento. Trata também de um grupo de extermínio e violência policial. Não é indicado para pessoas sensíveis e é recomendado para maiores de 18 anos.

“Até as galinhas do quintal de quem trair Hildebrando serão mortas.”

Hildebrando Pascoal Nogueira Neto, nasceu no dia 17 de janeiro de 1952, em Rio Branco, no Acre. Eu não encontrei informações sobre sua infância, então vamos direito para sua vida adulta. 

 

Hildebrando construiu sua carreira na Polícia Militar Acriana, chegou a ser comandante, e posteriormente conquistou à patente de Coronel. Anos depois se candidatou a deputado estadual no Acre e foi eleito em 1994. Nessa época Hildebrando integrava a base de apoio do governador Orlei Cameli, falecido desde maio de 2013, mas, investigado por corrupção à época de seu mandato como governador do Acre. 

 

A partir de 1995 uma série de atividades criminosas foram atribuídas a Hildebrando, e nesse mesmo ano o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) do Ministério da Justiça, passou a investigar o então deputado estadual. 

 

De acordo com as denúncias recebidas pelo Conselho, Hildebrando costumava esquartejar suas vítimas com o uso de uma motosserra antes de matá-las. As motivações para esses crimes variavam, e, durante as investigações, os rumores de crimes bárbaros foram tomando força na região. 

 

As principais atividades criminosas atribuídas à Hildebrando foram: liderar um grupo de extermínio no Acre chamado "Esquadrão da Morte"; integrar cartel de narcotráfico no estado; roubo de cargas; corrupção eleitoral; e assassinatos. 

 

O Conselho acabou criando uma Comissão Especial para investigar as denúncias, e, em seguida, a tarefa foi atribuída à uma subcomissão que atuaria especificamente no estado de Acre. Algumas testemunhas oculares que prestaram depoimento à subcomissão, ou que iriam iam prestar depoimentos foram assassinadas. 

 

Em decorrência desses assassinatos, a investigação passou a ser de competência da Polícia Federal, que comandou o rumo das diligências e interrogatórios. A alteração de competência foi capaz de fazer com que a influência política e policial de Hildebrando fosse reduzida, e alguns crimes passaram a ser solucionados e repercutidos em outros lugares do país. 

 

Um dos crimes mais bárbaros descobertos durante a investigação foi o assassinato brutal de Agilson Firmino dos Santos, conhecido como Baiano. 

 

Baiano foi ligado ao assassinato de um dos irmãos de Hildebrando, que teria ordenado ao seu Esquadrão da Morte que se vingasse do assassinato de seu irmão. De acordo com reportagens onde a própria família de Baiano deu entrevistas, alguns policiais teriam se dirigido a casa da família perguntando por Baiano, momento em que pedem para que a esposa de Baiano os acompanhasse até a delegacia. 

 

Ainda de acordo com o relato da família de Baiano, sua esposa permaneceu por horas na delegacia até ser liberada, durante o tempo em que ela esteve com os policiais, outros membros do Esquadrão retornaram à casa da família e pediram para que um dos filhos os acompanhassem, a filha mais velha de Baiano teria se oferecido para ir com os policiais, mas seu irmão caçula de apenas 13 anos acabou indo. 

 

Ela relata que seu pai e irmão ficaram desaparecidos por uns dias, até que seus corpos fossem encontrados. O corpo de Baiano estava mutilado e suas pernas e braços foram esquartejados com uma motosserra, haviam diversos sinais de tortura, como um prego fixado em sua cabeça e diversos ferimentos. Após o assassinato brutal, o corpo de Baiano foi descartado em um terreno com mato e sem construção. 


Wilder Firmino, filho de Baiano que na época dos fatos tinha 13 anos de idade, foi levado pelo Esquadrão na tentativa de descobrirem o paradeiro de Baiano, o garoto foi torturado e assassinado com um tiro. Seu corpo foi encontrado dias depois com o peitoral queimado com ácido. 

 

Posteriormente descobriu-se que em 30 de junho de 1996, Itamar Pascoal, irmão de Hildebrando, realmente foi assassinado, mas por José Hugo e, Baiano teria apenas presenciado o crime. 

 

Quase 20 anos após o crime, a filha mais velha de Baiano, Emanuela Firmino disse que: "Meu pai não pôde ver eu me formar na semana passada. Por muito tempo não pude sequer levar uma flor para o túmulo dele, porque foi enterrado como indigente na época. Depois de quase 20 anos, a gente ainda não se recuperou". 

 

Na época dos fatos as investigações revelaram o envolvimento de policiais acreanos nos assassinatos, conhecidos por integrarem o Esquadrão da Morte. Em 1997, outra testemunha de acusação, o policial civil Walter José Ayala, foi assassinado por ordem de Hildebrando, em Rio Branco. 

 

Além dos assassinatos, Hildebrando respondeu por envolvimento com o narcotráfico, crimes contra a ordem financeira, sonegação fiscal, porte ilegal de arma e corrupção eleitoral. 

 

Durante esses acontecimentos, Hildebrando conseguiu se eleger como Deputado Federal em 1998 pelo partido PFL, atual Democratas. E as investigações sobre corrupção eleitoral foram tomando forma, o esquema consistia no aliciamento de eleitores, comprados com papelotes de drogas que eram entregues em marmitas. 

 

Foi encaminhado para a Câmara e para o Senado um dossiê sobre o parlamentar e o crime organizado. A investigação da Comissão Especial gerou uma CPI dentro Câmara que ficou conhecida como "Operação Marmitex", resultando na cassação do mandato de Hildebrando e a prisão do Deputado, bem como a de mais 46 envolvidos no esquema, em 22 de setembro de 1999. 



Após a sua prisão, Hildebrando foi encaminhado para a penitenciária da Papudinha, onde permaneceu até dezembro de 2003. Nessa época, o ex-deputado foi transferido para a penitenciária de segurança máxima Antônio Amaro, junto com outros acusados de integrar o grupo de extermínio no Acre. 


Em novembro de 2006 a primeira sentença oficial de Hildebrando foi proferida, o condenando a 18 anos de prisão, pelo assassinato de Sebastião Crispim, crime que ocorreu em 1997. A sentença foi determinada pela Justiça Federal de Brasília. 

 

Em setembro de 2009, Hildebrando foi novamente condenado a 18 anos, pelo Tribunal do Júri do Acre, pelo assassinato brutal de Baiano. O julgamento foi muito esperado e repercutido, inclusive existem vídeos no YouTube que mostram partes da sessão plenária. 

 

Durante o julgamento, Hildebrando profere ameaças públicas a figuras importantes do Poder Judiciário e sua alcunha "Deputado da Motosserra" toma ainda mais força. 

 

Outros processos contra Hildebrando foram tramitando e a soma de suas penas ultrapassaram 100 anos de reclusão. 


No dia 06 de outubro de 2016 foi determinada a progressão de regime prisional de Hildebrando, do regime fechado ao semiaberto, mas em dezembro do mesmo ano, por descumprir os requisitos do regime, acabou regredindo ao regime fechado e respondendo a uma sindicância de falta disciplinar (que eu já expliquei como funciona em alguns episódios), ao final da apuração do procedimento administrativo e análise no processo de execução criminal a falta disciplinar foi desconsiderada e o regime semiaberto foi reintegrado. 

 

Em fevereiro de 2017 Hildebrando passou a cumprir a prisão domiciliar, com uso de monitoramento de tornozeleira eletrônica por se encontrar com a saúde debilitada, e locomoção restrita ao uso cadeira de rodas, o que dificulta a sua permanência em unidade prisional. 

 

Por conta da pandemia, o filho de Hildebrando contou que os cuidados com pai foram redobrados, uma vez que ele tem problemas de saúde. Atualmente Hildebrando ainda cumpre pena em prisão domiciliar, aos 70 anos de idade. 


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