Alice kyteler - "A Bruxa Assassina" de Kilkenny

Resenha com conteúdo violento e não indicado para pessoas sensíveis. Indicado para maiores de 18 anos.

"Você gostaria de destruir uma mulher na Europa pré-Iluminismo? Haviam algumas opções bem convenientes. Você poderia acusá-la de depravação sexual - uma tática sempre eficiente. Poderia acusá-la de ter matado o próprio bebê. Ou poderia juntar tudo isso em um pacote dramático, transbordando sexo e superstição, e acusá-la de ser uma bruxa - depois lavar suas mãos e deixar a multidão cuidar do resto enquanto você se sentaria para saborear uma tigela quente de caldo de cabeça de carneiro." 



    Alice Kyteler foi uma mulher poderosa, aventureira, hábil nas finanças e encantadora. Nascida em 1263, morava na tranquila cidade de Kilkenny, na Irlanda.


    Alice sempre foi socialmente influente, pois possuía terras e descendia de mercadores flamengos. Essa influência só aumentou quando ela se casou com o abastado banqueiro William Outlawe, por volta de 1280. Eles tiveram um filho chamado William Jr., que Alice amava e se dedicava integralmente. 


     Depois de quase vinte anos de casamento, William Outlawe morreu quase que de forma conveniente, pois agora, William Jr. tinha idade suficiente para gerir os negócios da família. 


    Após a morte de Outlawe, Alice e William Jr. se tornaram ainda mais ricos e importantes socialmente. Alice casou-se novamente, e dessa vez com o latifundiário Adam le Blond. Eles formavam um casal formidável, e a influência deles na sociedade de Kilkenny era inquestionável. O poder que eles desfrutavam era tanto que chegaram a emprestar dinheiro para o rei Eduardo I, para ajudar a financiar as guerras contra a independência escocesa.  


    Os rumores sobre o novo casal poderoso começaram a despertar um certo desconforto nos moradores de Kilkenny, especialmente pelo fato de que Alice enriquecia a cada casamento. Os rumores só pioravam, e a animosidade contra Alice se estabeleceu quanto Adam repentinamente revisou seu testamento, tornando William Jr. seu único herdeiro. Adam o amava e estava perdidamente apaixonado por Alice. 


     A mudança repentina no testamento causou comoção na família de Adam, pois ele já tinha filhos biológicos que receberam horrorizados a notícia da deserdação. Pouco tempo depois, Adam morreu misteriosamente. Era outra morte conveniente que deixariam Alice e William Jr. ainda mais ricos e poderosos. 


     Em 1309, Alice se casou com o seu terceiro marido, o rico, atraente e cavaleiro Richard de Valle. Assim como Adam, Richard estava perdidamente apaixonado por sua nova esposa e por seu enteado Willian Jr., Richard, também tinha filhos biológicos. 


    Quando Richard morreu, Alice recebeu um terço de suas consideráveis terras como herança. Mas, um dos filhos biológicos de Richard tentou reclamar o espólio para si. Alice não cedeu a tal reclamação e levou o caso para os tribunais. Ela venceu. Se tornando oficialmente a "madrasta malvada" e ainda mais rica e poderosa aos olhos dos recém-órfãos de Valle e de toda a cidade de Kilkenny. 


    O quarto marido de Alice sobreviveu. O importante sir John li Poer, que assim como os outros maridos de Alice estava encantado e perdidamente apaixonado por sua esposa. O fato de John ter sobrevivido não significava que sua integridade física e saúde estivessem bem. 


    Ao longo do casamento a saúde de John passou a se deteriorar gradualmente. Ele ficou extremamente magro, perdeu todos os pelos do corpo e suas unhas caíram. Os problemas de saúde de John deveriam ter sido associados a algum tipo de envenenamento, pois, as reações nocivas no corpo dele correspondiam aos efeitos causados através de envenenamento por arsênico, mas não foi o que aconteceu. 

 

    Uma mulher sedutora com um histórico de maridos mortos pelo caminho não poderia ser uma assassina em série. Ela só poderia ser uma bruxa! 


      John não parecia suspeitar de sua esposa, uma vez que, também revisou seu testamento garantindo que Alice e William Jr. permanecessem "confortáveis" caso ele viesse a falecer. 


    A revisão do testamento enfureceu os filhos de John, que, em 1324 procuraram o bispo mais próximo e lhe contaram que Alice havia enfeitiçado seu pai e que também teria matado seus três maridos anteriores. 


    O bispo em questão era Richard de Ledrede, um moralista inglês que foi educado enquanto uma onda histérica de caça às bruxas varria a França. Nessa época a Igreja Católica começava a articular mudanças a respeito das definições e interseções de feitiçaria, bruxaria e sacrilégio. 


    A bruxaria não era mais caracterizada apenas por atos de magia e maleficia, ela passou a ser uma oposição direta a Igreja. Bruxas eram hereges e a partir de agora, inquisições, perseguições e fogueiras seriam acesas por toda a Europa. 


   Richard vivia para aplicar as leis da Igreja, era um conservador extremo e implacável, e, claro, odiava a ideia de ter uma bruxa poderosa solta por Kilkenny, enfeitiçando homens para matá-los depois e assim enriquecer a cada casamento.  


   Com Richard envolvido, as acusações contra Alice subitamente se multiplicaram. É importante frisar que as acusações feitas inicialmente pelos filhos de John eram de que Alice havia enfeitiçado e assassinado seus três primeiros maridos e estava tentando matar o quarto. Porém, as novas acusações contra ela implicavam assuntos ainda mais imorais: negar a fé cristã; sacrificar animais; cozinhar um ensopado no crânio decepado de um ladrão, recheado de ingredientes como tripas de galo, vermes, cérebro de crianças não batizadas e unhas de homens mortos. E por fim, foi denunciada por dormir com um demônio chamado Robin Artisson, ou Robin, Filho da Arte, que supostamente era a fonte de toda a riqueza e poder de Alice. 


   Essas acusações não indicavam apenas uma subversão por parte da Igreja Católica, mas também ao fato de que Alice não correspondia ao esperado "papel da mulher" na sociedade e da "esposa ideal". Ela era promiscua, fazia sexo com um demônio, cozinhava criancinhas e assassinava seus maridos. 


   Evidente que tais acusações pitorescas tiraram o foco das reais acusações: ela havia matado seus antigos maridos e estava tentando matar o atual. Alice não era apenas uma ameaça ao ego masculino ou a Igreja, ela era uma ameaça econômica para a sociedade e exemplo vivo de sucessão feminina, herdando a fortuna dos Outlawe/le Blond/de Valle/le Poer. 


    Richard acreditava que o trabalho da Igreja "estava acima das formalidades da lei terrena", a perseguição contra Alice havia se tornado algo pessoal. Ele a difamou e a excomungou por bruxaria. Quando Richard finalmente conseguiu permissão para julgar Alice por bruxaria em um tribunal, já era tarde, ela havia fugido para a Inglaterra. 


    Os supostos cúmplices de Alice (na fuga e nos crimes) foram torturados e obrigados a confessar todos os crimes que Alice hipoteticamente havia cometido, e afirmaram: Alice era sua temível líder "a mãe e mestra de todos eles" e que quando se tratava de magia negra, ninguém no mundo era mais poderoso que a dama Alice.  


      Petronilla de Meath era a criada de Alice e se tornou bode expiatório de todos os crimes de sua dama, reais e imaginários. Petronilla foi açoitada seis vezes e queimada viva no dia 3 de novembro de 1324. Foi a primeira vez que alguém recebeu sentença de morte por heresia – bruxaria – na Irlanda. Sua memória permanece como símbolo de "feminilidade inocente e ferida". 


     Os demais cumplices de Alice foram açoitados, banidos, excomungados e outras fogueiras foram acesas, mas Alice permaneceu intocada. Willian Jr. conseguiu um acordo de perdão com o bispo se ele se comprometesse com a Igreja, e assim o fez, financiando um novo teto de chumbo para a Catedral. 


    Não se teve notícias sobre o real paradeiro de Alice, mas uma coisa é certa, ela passou o resto da vida exilada.  


   Hoje em dia Richard de Ledrede está praticamente esquecido, assim como as acusações originais contra Alice: o assassinato e tentativa de assassinato de seus maridos. Alice ficou marcada na história como o centro sombrio da caça às bruxas em Kilkenny e também como a primeira mulher condenada a pena de morte por heresia no continente (ao menos a primeira segundo registros). 


 Alice foi lembrada para sempre como bruxa e não como assassina. 


Fonte principal de pesquisa: 

Livro "Lady Killers - Assassinas em Série 

Ficha Técnica do livro

  • Título: Lady Killers - Assassinas em Série
  • Autora: Tori Telfer
  • Editora: DarkSide Books
  • Ano de Publicação: 2019
Os detalhes sórdidos dessa história você encontra no Livro Lady Killers


Link para comprar o livro: https://amzn.to/3hvRDvm Graphic Novel Lady Killers: https://amzn.to/2Rnln31

Conheça mais sobre Alice Kyteler:

💀 Assine o Patreon

conteúdos exclusivos e clube de membros

https://www.patreon.com/thecrimebrasil



Ouça o PODCAST aqui

https://anchor.fm/thecrimebrasil


Se inscreva no Canal do Youtube

https://www.youtube.com/channel/UCW7RjpRGVisTvC7I9xIOKcw


Por Thainá Bavaresco.

Comentários

  1. Eu amei a sua resenha. É intrigante pensar que a humanidade já queimou mulheres por acreditar que era bruxas enquanto elas só estavam fazendo o que os homens sempre fizeram.
    Claro que não minimizando o fato dela ter sido uma assassina.
    Estou ansioso para o próximo texto. ♥️

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ahhhh que maravilhoso ler isso!!!! Fico muito feliz que amou a resenha e é exatamente isso. Quando mulheres fazem o que os homens sempre fizeram, se torna algo inaceitável...
      Quinta que vem tem mais um caso <3

      Excluir
  2. Respostas
    1. The Crime não brinca em serviço hahahhahah só casos intensos!!!

      Excluir
  3. Muito interessante, gostei da história .

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Bom saber que gostou, amanhã às 18h00 publicarei a história do maior serial killer do Brasil. :)

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas