"João de Deus" - O Médium Abusador Sexual

A história a seguir contém descrições de crimes extremamente violentos: estupro, pedofilia, violência contra a mulher, suicídio e violência psicológica. As fotos das cirurgias espirituais podem causar desconforto. Não é indicada para pessoas sensíveis e é recomendada para maiores de 18 anos.

"A história do homem que prometia a cura, mas cometia crimes terríveis"


📍Se você sofre ou conhece alguém que sofre violência sexual e/ou violência contra a mulher, não se cale! Busque ajuda e denuncie através do disque 100 ou ligue 180. Em caso de emergência, disque 190. 


Os telefones funcionam 24 horas por dia, todos os dias da semana. 


- Os canais de atendimento da Defensoria Pública também podem te ajudar de forma gratuita. As denúncias devem ser realizadas em Delegacias da Mulher que são especializadas para receber vítimas de violência de gênero e que eventualmente precisem de medidas protetivas.  


No momento do registro do boletim de ocorrência a própria delegada pode redigir a medida protetiva e também te encaminhar para um local seguro, caso exista na sua cidade. 


- Sites úteis (Estado de SP):  

ATENDIMENTO ÀS SITUAÇÕES DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA AS MULHERES NO ESTADO DE SÃO PAULO

  • Defensoria Pública 

https://www.defensoria.sp.def.br/dpesp/Default.aspx?idPagina=3453

 

  • Delegacias da Mulher  


Esse post usou como fonte principal de pesquisa o Documentário "João de Deus: Cura e Crime" da Netflix, portanto, farei um breve resumo de como o documentário é dividido e já deixo aqui a recomendação fortíssima para que vocês assistam! O documentário foi muito bem produzido e eu não consegui parar de assistir! É realmente muito bom, fiéis aos fatos e por ser um doc. lançado este ano, é super atualizado e mostra a vida de algumas vítimas e também a de João em tempos pandêmicos. 


O documentário "João de Deus: Cura e Crime" da Netflix estreou no dia 25 de agosto de 2021. É uma série documental dividida em 4 episódios de aproximadamente 50 minutos cada.  


O primeiro episódio, "O Curador" mostra a trajetória de "curas" realizadas por João, suas cirurgias espirituais e os métodos absurdos e extremamente invasivos que ele realizava em seus consulentes e também mostra como ele se estabeleceu em Abadiânia, no interior de Goiás e se tornou um "médium" conhecido internacionalmente; 


O segundo episódio, "O Escândalo" mostra como João de "Deus" transformou a promessa de cura em um negócio altamente lucrativo. Os esquemas que ele mesmo planejava para explorar moradores locais e principalmente estrangeiros! Também mostra o envolvimento político que contribuiu diretamente para os lucros de João e as primeiras denúncias realizadas contra o suposto médium; 


O terceiro episódio, "O Processo" mostra a quantidade de vítimas que João de "Deus" fez ao longo de sua vida. Foram diversos crimes contra a dignidade sexual de mulheres no mundo todo, estupros, pedofilia, ameaças, um suposto envolvimento em assassinato e posse ilegal de arma. O documentário contém diversos gatilhos, mas em especial esse e o último focam bastante nas violências sexuais, então se atentem aos avisos de gatilho e caso você esteja sofrendo alguma violência sexual, denuncie através do disque 100, ou ligue 180; 


O quarto e último episódio, "Justiça?" mostra o relato da filha de João de Deus, abusada pelo próprio pai desde os 9 para 10 anos de idade. Também são entrevistadas algumas vítimas pontuais. É mostrada a vida de João atualmente, e como as sobreviventes tentam seguir após o trauma das violências sofridas anos atrás. 


Foto do documentário "João de Deus: Cura e Crime", da Netflix.

João Teixeira de Faria, nasceu no dia 24 de junho de 1942, no povoado de Cachoeira da Fumaça, que, em 1953, foi emancipado e tornou-se o município de Cachoeira de Goiás. João é o filho caçula dos seis filhos de Jose Nunes de Faria e Francisca Teixeira Damas. 

 

João se mudou com a família para Itapaci, uma cidade na mesma região onde nasceu, tendo estudado até o segundo ano do ensino fundamental. De acordo com o próprio João, ele nunca aprendeu a ler ou escrever, pois precisou abandonar os estudos para ajudar no sustento da sua família.  

 

As informações sobre a vida de João acabam sendo sempre contraditórias, pois, ele sempre muda as versões sobre sua própria vida. 

 

Mas de acordo com a sua autobiografia, João teria tido a sua primeira experiência mediúnica com 9 anos de idade, em 1951. Segundo João, ele visitava familiares junto com sua mãe quando previu que uma grande tempestade iria cair sobre a região onde estavam. Ele conta que teria apontado para casas, incluindo a de um dos irmãos dele, dizendo que elas cairiam ou seriam destelhadas. 

 

De acordo com o relato, ele teria pego a mãe pelo braço para que eles saíssem de lá o quanto antes. A mãe dele não entendeu nada, mas mesmo assim resolveu se abrigar junto com o filho na casa de alguns amigos. Segundo a autobiografia, a tempestade caiu como ele havia previsto, destruindo as casas da cidade. 

 

João disse que no dia seguinte ao temporal, ele caminhava próximo a um rio quando viu um clarão e ouviu uma voz o chamando, dizendo que ele deveria procurar um determinado Centro Espírita. Ele procurou por esse Centro, e ao chegar no local, o diretor da casa teria se aproximado dele e perguntado se ele era “João Teixeira de Faria”, pois eles o estavam esperando. 

 

Ele também afirma que, naquele momento, desmaiou e só acordou horas depois com várias pessoas ao seu redor explicando que ele havia incorporado uma entidade espiritual chamada de Rei Salomão. E que naquele dia ele teria curado cerca de 50 pessoas.  

 

Depois disso os atendimentos espirituais teriam sido iniciados naquele Centro, já praticando as "cirurgias espirituais", e ficando conhecido como curandeiro. Ele chegou a ser acusado, na época, por praticar ilegalmente a medicina. Depois, também foi acusado de sedução de uma menina menor de idade, mas foi absolvido por falta de provas. 

 

De acordo com a revista "Época", João também já foi acusado por atentado ao pudor, contrabando de minério e assassinato. Em nenhum dos casos ele foi condenado. 

 

Durante a época da Ditadura Militar, ele se mudou para Brasília, e começou a trabalhar como alfaiate do Exército. Paralelamente exercia os trabalhos espirituais de cura, ganhando a proteção de militares e pessoas influentes. 

 

Em 1976, João fundou a Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia, que fica a 100 km de Goiânia e a 100 km de Brasília. No local, ele continuou realizando os atendimentos espirituais até o dia 16 de dezembro de 2018 quando foi finalmente preso.  


 



O local ficou mundialmente conhecido depois que artistas de Hollywood foram ao local em busca de atendimento. Além disso, ex-presidentes da República, governadores, políticos e atores brasileiros também frequentaram a casa em busca de cura para enfermidades. 


 

Ele ficou conhecido popularmente no Brasil como João de Deus (nome que ele mesmo escolheu), João Curador ou João de Abadiânia e em outros países como "John of God", em sua autobiografia ele diz que é um "médium curandeiro, empresário e escritor brasileiro", mas em entrevistas ele se autodeclara um simples fazendeiro que espalha a palavra de Deus. 

 

Em todos esses anos de atendimento em Abadiânia, João esquematizava um negócio extremamente lucrativo. Os moradores da cidade precisavam pagar mensalmente uma quantia para João, só assim seus estabelecimentos continuavam funcionando, além disso, os atendimentos na Casa Dom Inácio eram gratuitos, porém, João sempre prescrevia remédios de cura para todas as pessoas que passavam por lá. 

 

Ele também afirmava que os consulentes deveriam comprar determinada pedra ou cristal para conseguir alcançar a cura. Os cristais eram vendidos em uma loja do próprio João, bem como a loja dos "medicamentos". Os valores eram absurdos e os "remédios" que ele prescrevia eram feitos a partir de maracujás. 

 

João também realizou várias excursões internacionais por países como Peru, Alemanha, Estados Unidos, Grécia, Suíça, Áustria, Austrália, Nova Zelândia, dentre outros. Como "John of God", foi apresentado em programas de televisão nesses países desde os anos 2000.  

 

Ganhou mais destaque internacional após a Oprah Winfrey participar de cerimônias promovidas por ele em 2012 e apresentá-lo em seus programas. 


 


João de Deus foi casado por 11 vezes e teve um filho com cada esposa. Dalva Teixeira, uma das filhas de João de Deus, relatou abusos sexuais realizados pelo pai desde os seus 9 anos de idade. Ela afirma que o pai passava a mão em suas partes íntimas, mas que ela não entendia.  

 

A partir dos seus 10 anos, até os 14, Dalva foi estuprada diversas vezes pelo pai. Ele dizia a ela que ele faria uma limpeza espiritual nela e que ela tinha que obedecê-lo, ele abusou da própria filha até ela engravidar. 

 

Foi dito na época que ela engravidou de um garoto que trabalhava para João em uma de suas fazendas, após os boatos da gravidez da filha, João a espancou até que ela sofresse um aborto.  

 

Dalva acabou fugindo, se casou e teve 3 filhos. O casamento acabou não dando certo e João sempre a ameaçava, dizendo que seus filhos passariam fome por ela não ter capacidade de criá-los. Ela eventualmente deixou os filhos com o avô abusador e fugiu para Portugal.  

 

Ela relata que passou fome e que não conseguiu reconstruir sua vida, então acabou retornando para a casa do pai que continuou abusando dela na base da ameaça e sempre dizendo que: "você é minha e sempre vai ser minha". 


 


Tempos depois os filhos de Dalva descobriram tudo o que a mãe passou e ainda passava. Em 2017 eles processaram o avô para defender a mãe. João por sua vez mandou capangas para ameaçarem os netos com uma arma. Os filhos de Dalva foram espancados e um dos capangas de João atirou 3 vezes na parede para aterrorizar os netos.  

 

João também obrigou a filha a gravar um vídeo desmentindo toda a história de abuso sofrido na infância e que os filhos dela estavam inventando tudo. Eles retiraram as acusações contra o avô na época, mas atualmente, Dalva pede uma indenização no valor de R$ 50 milhões, além de uma reparação por danos morais sofridos em razão de contínuos abusos.  


 


Dalva não fora a única vítima de João. Ele abusava de todas as mulheres que julgava ser bonita e que iam até a Casa Dom Inácio em busca de cura. O modus operandi de João de Deus se estruturava sob a fragilidade dessas mulheres. As vítimas estupradas, violadas e abusadas por João estavam doentes ou buscando por tratamentos para seus familiares.  


 


Os atendimentos eram realizados normalmente dentro da sala de João (que era um lugar isolado), em que a porta era fechada e elas precisavam respeitar as regras de comportamento da Casa Don Inácio, e algumas delas eram: não cruzar as pernas ou os braços; ficar de olhos fechados; e obedecer a todas as ordens do suposto médium. 

 

João era um homem alto, forte, influente, idolatrado e reconhecido no mundo todo como sendo um notório curandeiro. O sentimento de impotência e intimidação que as vítimas sentiam era absurdo, fazendo com que algumas delas inclusive duvidasse de sua própria sanidade. 


 



Pelo menos 10 anos antes das denúncias de abuso sexual efetivamente serem investigadas, uma garota de 16 anos denunciou e processou João de Deus, que acabou sendo inocentado em segunda instância por falta de provas. Ainda que a palavra da vítima tenha relevante valor probatório hoje em dia, na prática as mulheres ainda são desacreditadas e revitimizadas de diversas formas.  

 

Em 2018 o STJ entendeu que a palavra da vítima tem relevante valor probatório, e em 2019 a Lei Maria da Penha já previa, entre outras alterações benéficas as vítimas, que a palavra da vítima tem de fato, importante relevância para apurar se a violência aconteceu ou não.  

 

A alteração foi considerada um avanço das mulheres na conquista por direitos, pois, a violência contra a intimidade da mulher quase sempre acontece em locais isolados em que o agressor se sente à vontade para praticar o que quiser e a vítima se sente encurralada e sem possibilidade de defesa. Entendimento do STJ sobre a palavra da vítima

 

A cultura do estupro foi naturalizada no Brasil, e tornou comum a primeira pergunta a se fazer, ser o que a vítima estava fazendo para ter sua intimidade violada e não o por que um homem se sente tão à vontade a ponto de violar os corpos de diversas mulheres por tantos anos? 

 

João de Deus ainda tem diversos seguidores e pessoas que acreditam em suas palavras. Ele nunca confessou nenhum dos crimes, e sempre dá discursos sobre como Jesus também foi crucificado por espalhar a palavra de Deus, e se isenta da culpa, não a reconhece e nem se arrepende. 

 

Esse caso escancara a realidade de como a palavra de uma mulher vale tão pouco. Uma garota sozinha processou o seu agressor que acabou sendo inocentado. Anos depois, mais de 300 denúncias foram realizadas oficialmente, João fora condenado, mas muitas vítimas ainda são questionadas sobre a veracidade das acusações.  

 

É desesperador perceber como um homem consegue abusar de tantas mulheres por tantos anos e mesmo após ser condenado por crimes terríveis, ainda ser adorado por muitos. 

 

As diversas denúncias contra João foram realizadas no final de 2018, justamente quando já se era debatido o valor probatório da palavra da vítima.  

 

Os primeiros dez relatos, após o processo da garota de 16 anos, foram divulgados pelo programa Conversa com Bial, da Rede Globo, no dia 7 de dezembro de 2018. No dia seguinte, o jornal O Globo divulgou mais 3 relatos, e o Jornal Nacional mais 2, totalizando 15 casos. 

 

Uma possível vítima de João cometeu suicídio no dia 12 de dezembro de 2018. Segundo a ativista social, Sabrina Bittencourt, que atendia a garota, isso provavelmente aconteceu porque os familiares dela eram seguidores fiéis de João e não acreditavam nas acusações de abusos relatadas pela jovem. 

 

Na tarde desse mesmo dia (12 de dezembro de 2018), o Ministério Público de Goiás requereu a prisão preventiva de João. No dia 14 de dezembro, a justiça de Goiás deferiu sua prisão preventiva por abuso, importunação sexual de centenas de mulheres e por ter havido uma movimentação milionária na conta do acusado, o que poderia indicar uma possível tentativa de fuga. 

 

João não foi encontrado em pelo menos 40 dos endereços em que foram realizadas as diligências para a sua prisão. Todas as propriedades eram dele, então ele foi considerado foragido. No dia 16 de dezembro de 2018 ele se entregou à polícia e foi preso. 


 


Após o escândalo e prisão de João, a Federação Espírita Brasileira (FEB) divulgou uma nota afirmando que serviços espirituais não deveriam ocorrer isoladamente. E determinou que os atendimentos sejam realizados com mais de uma pessoa, para que a integridade dos consulentes seja protegida 

  

De acordo com o Ministério Público, o número total de vítimas ultrapassa 330 mulheres. Além dos crimes sexuais, João também foi indiciado por falsidade ideológica, corrupção de testemunha e coação e posse ilegal de armas de fogo e munição.  

  

Em novembro de 2019, João fora condenado por posse ilegal de arma de fogo, com pena de reclusão de 4 anos em regime inicial de cumprimento de pena semiaberto. 

 

No dia 19 de dezembro de 2019, ele foi condenado a 19 anos de prisão por crimes sexuais cometidos contra quatro mulheres, com regime inicial de cumprimento da pena o fechado. 

 

No dia 20 de janeiro de 2020 a juíza Rosângela Rodrigues Santos condenou João de Deus a mais 40 anos de prisão por crimes sexuais cometidos contra outras cinco mulheres. Esta sentença acolheu denúncia do Ministério Público de Goiás enviada em março de 2019. Regime inicial de cumprimento da pena, fechado. 

 

Como já expliquei no caso da "Seita Canibal de Garanhuns", as penas são sempre unificadas e o regime de cumprimento da pena será o fechado. Como são condenações de processos diferentes, as execuções penais serão apensadas ao primeiro processo de execução e todas as penas serão cumpridas de uma só vez. 

 

No dia 30 de março de 2020, a justiça concedeu a prisão domiciliar para João, em decorrência da pandemia de COVID-19. João tem 79 anos de idade e um estado de saúde debilitado. Nesse caso, a justiça concede a prisão domiciliar para evitar que o apenado seja acometido pela doença que pode ser fatal. 


 


Eu sei que essa foi uma determinação controversa para quem não é do direito, e inclusive as vítimas que aparecem no documentário lamentaram a decisão e disseram que não se sentem mais seguras.  

 

Porém, a lei se baseia em princípios importantes que devem assegurar a integridade de pessoas que estão sob a tutela do Estado. No Brasil não existe pena de morte, exceto em casos de Guerra. E manter pessoas com idade avançada e saúde debilitada numa unidade prisional no contexto da pandemia seria condená-la a morte. 

 

Durante a pandemia foram concedidos diversos HC – Habeas Corpus coletivos determinando a prisão domiciliar para pessoas do grupo de risco. 

 

O Ministério Público recorreu da decisão desse primeiro pedido de prisão domiciliar concedido a João e no dia 26 de agosto de 2021 ele foi novamente levado a uma unidade prisional, porém seus advogados de defesa impetraram um novo HC que foi acolhido pelo Tribunal de Justiça de Goiás (TJGOreconhecendo os argumentos pela dignidade da pessoa humana dado o estado de saúde de João e sua idade avançada. 


No dia 14 de setembro de 2021 João voltou a cumprir a pena em prisão domiciliar. 


"Cirurgias Espirituais" realizadas por João











Importante!!!

Se você é ou foi vítima de violência sexual lembre-se que a culpa não é sua! Não é sobre algo que você tenha feito, ou falado... Você não corroborou de qualquer forma para que uma violência sexual ou outro tipo de violência acontecesse contra você. A única coisa que leva uma pessoa a agredir outra e cometer crimes terríveis, é tão somente a sua própria vontade de fazê-la! Existe desvio de caráter no agressor, existe perversidade e eventualmente até uma patologia irremediável.  

 

A pessoa que comete um crime de violência sexual se aproveita da condição de vulnerabilidade da vítima, seja por idade, poder, hierarquia, oportunidade (no sentido de uma vítima estar alcoolizada, por exemplo), entre outras condições que o coloca numa posição de superioridade em relação a vítima. Nesse caso em específico, o João de Deus era considerado um homem santo, que realizava milagres extraordinários e era reconhecido no mundo inteiro, além de desempenhar um poder de autoridade na cidade de Abadiânia e ter apoio político. 

 

As pessoas relatam que João andava cercado por seguranças que coagiam e ameaçavam pessoas que se colocassem no caminho de João de Deus. Várias mulheres relatam que conversaram com funcionários da Casa Dom Inácio, recepcionistas de pousadas e de restaurantes, mas que todos eles diziam "para não mexer com isso", ou que aquela mulher tinha entendido errado, ou que aquilo fazia parte do tratamento oferecido por João.  

 

Em diversas entrevistas as vítimas são questionadas sobre a "demora" em denunciar as violências sofridas na Casa de cura, e desde o início existe uma estrutura gigantesca que possibilitava que os crimes acontecessem e que elas ficassem caladas.  

 

Além de o poder de João, existiam essas pessoas que não acreditavam nos relatos de abuso, que desencorajavam as denúncias, faziam as mulheres duvidarem de sua própria memória, após uma violência/trauma é difícil você processar tudo imediatamente, também existia medo do que João era capaz de fazer caso denunciasse alguém tão influente como ele, e a questão da fé. Como denunciar alguém que tem poderes de curas impossíveis. A vergonha de ser uma vítima de crime sexual é algo bizarro também.  

 

Nós não podemos mais nos calar. A culpa de uma violência sofrida NUNCA é da vítima, mas precisamos fazer algo a respeito depois. Por isso é tão importante denunciar agressores, para que exista a possibilidade da devida responsabilização desses crimes, e também para que essa pessoa seja impedida de continuar praticando atos tão cruéis. 

 

Para além da denúncia, é extremamente importante que as vítimas busquem por ajuda psicológica para tratar o trauma sofrido e reduzir as marcas dessa violência. 

 

→ Se você sofre ou conhece alguém que sofre violência sexual e/ou violência contra a mulher, não se cale! Busque ajuda e denuncie através do disque 100 ou ligue 180. Em caso de emergência, disque 190. 


Os telefones funcionam 24 horas por dia, todos os dias da semana. 


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O caso de hoje foi escolhido por um membro do The Crime Club, o Felipe Lofredo (@lofredo_felipe). ❤💀❤

Fontes de pesquisa:

Documentário "João de Deus: cura e crime" da Netflix

"O idolatrado e autoproclamado médium João Teixeira de Faria, mais conhecido como João de Deus, alcança fama internacional com uma suposta cura, até que sobreviventes do seu "tratamento", procuradores e a mídia começam a denunciar seus abusos." 

https://www.netflix.com/br/title/81103570


Outras Fontes:






Artigo Científico "Cirurgia espiritual: uma investigação" 


Vídeo João de "Deus" realizando 'cirurgia espiritual'

Drauzio Varella sobre João de Deus

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Por Thainá Bavaresco.

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